Memórias
Entro com a minha mãe no quintal da nossa casa. " A terra está coberta por folhas de várias estações. Os pessegueiros perguntam por onde andámos, porque demorámos tanto. As plantas dos canteiros transbordaram, embaraçaram-se numa espécie de desespero. A água do tanque de lavar a roupa é verde. O pombal não tem pombos. A coelheira não tem coelhos. A capoeira está habitada pela memória de galinhas submissas e galos no poleiro, desconfiados de qualquer movimento. Às vezes, como antes, sentimos a chegada da gata, é uma presença, uma intuição, vem cumprimentar-nos, é uma gata livre, salta pelos quintais, escolhe as pessoas com quem quer estar, apesar de invisível, é agora o fantasma de uma gata. Ao fim da tarde, com as janelas abertas, o que escreve a minha mãe sobre a mesa da cozinha? Muito provavelmente, escreve postais aos mortos, dá-lhes notícias com a sua caligrafia de voltas demoradas. Ela própria receberá esses postais quando for às casas vazias ver se há corr